terça-feira, 26 de junho de 2012

TRECHOS DO LIVRO DESCOBRINDO O DOM PROFÉTICO DE MIKE BICKLE


Capítulo 5

Deus Ofende a Mente para
Revelar o Coração

          A introdução do ministério profético em nossa igreja foi difícil para mim porque eu desprezava o comportamento excêntrico de algumas das pessoas que Deus usava. Tinha dificuldade, também, em aceitar alguns dos seus métodos insólitos, totalmente estranhos a toda minha formação evangélica e experiência anterior.
          Não era apenas o ministério profético que me incomodava; as outras manifestações do Espírito Santo, também, geralmente contrariavam meu senso de ordem e respeito. Antes que pudesse caminhar junto com o que Deus queria fazer conosco, como igreja, eu precisava lidar com aquilo que ofendia minha razão.
          Nós, cristãos, criamos uma série de pressuposições religiosas sobre como Deus lida conosco. Ele é cavalheiro, dizemos, alguém que nunca arromba a porta, mas polidamente aguarda do lado de fora, batendo com educação e esperando pacientemente.
          Pensamos do Espírito Santo como alguém extremamente tímido ou sobressaltado. Se quisermos que o Espírito Santo aja, é necessário ficar parados e quietos. Se um bebê chorar, de acordo com alguns, o Espírito Santo pode se retirar ou talvez se assustar. Isto parece ridículo, mas muitas pessoas, tanto pentecostais como evangélicos tradicionais, vivem sob pressupostos como esse.
          Paulo instruiu os coríntios a não proibir línguas ou profecia, mas que tudo fosse feito “com decência e ordem” (1 Co 14.40). Nossa equipe de liderança tem se empenhado muito em criar uma atmosfera em que o livre fluir dos dons espirituais aconteça em “decência e em ordem”.
          Mas alguns têm interpretado a instrução de Paulo, para advertir às pessoas que agem na carne, de maneira a sugerir que o Espírito Santo só opera nos parâmetros estabelecidos por nosso senso de ordem e respeitabilidade. Não foi assim que ocorreu no Antigo Testamento, nem na Igreja Primitiva, nem nos avivamentos ao longo da história.
          Duas coisas são claras. Primeiro, o Espírito Santo não parece estar muito preocupado com nossa reputação.
          O derramamento do Espírito Santo não contribuiu muito para edificar a reputação daqueles que esperavam naquele cenáculo. “Estes homens não estão bêbados, como vocês supõem”, disse Pedro. Algumas pessoas, quando cheias do Espírito, parecem estar bêbadas. Posso imaginar Pedro pregando seu sermão em Atos 2, enquanto ele mesmo ainda sentia alguns dos santos efeitos do êxtase dos céus.
          Pedro dirigiu seu primeiro sermão aos forasteiros que estavam em Jerusalém para a festa de Pentecostes. Muitos destes ficaram maravilhados e perplexos ao ouvirem louvores a Deus em suas próprias línguas (At 2.8-12).
          Mas Pedro também pregou aos mais religiosos de todos, os fariseus hebraicos da Judéia que, ao serem ofendidos em suas mentes, zombaram deles dizendo: “Eles beberam vinho demais” (v.13). O comportamento dos discípulos pode ter parecido totalmente incompreensível aos olhos dos líderes religiosos, no entanto, tratava-se da obra do Espírito Santo.
          Um segundo fato sobre o modo como o Espírito trata conosco é este: Contrariando a imagem que temos dele, de educação, timidez e cavalheirismo, Ele intencionalmente escandaliza as pessoas.
          Deus agradou-se em ofender os gentios pela loucura do Evangelho e em fazer os judeus tropeçarem no escândalo da cruz (1 Co 1.21-23). Paulo advertiu os gálatas que se começassem a exigir a prática da circuncisão, como queriam os judeus, então “o escândalo da cruz foi removido”. A implicação é que o evangelho, pelo próprio desígnio de Deus, às vezes escandaliza.


                       A Ofensa Intencional


          Um bom exemplo de como Deus ofende intencionalmente as pessoas está em João 6. Jesus havia alimentado cinco mil pessoas com a multiplicação dos peixes e dos pães. Agora esperavam que o Messias provasse sua divindade através de grandes sinais, algo maior do que multiplicar pão ou curar pessoas. Estavam antecipando mais comparável a abrir o Mar Vermelho, fender o Monte das Oliveiras ou trazer fogo dos céus. Perguntaram a Jesus:

Que sinal miraculoso mostrarás para que o vejamos e creiamos em ti? Que farás? Os nossos antepassados comeram o maná no deserto (Jo 6.30-31a).

          Em outras palavras, estavam pedindo que Jesus fizesse algo como fazer cair maná dos céus novamente. Jesus não fez o sinal que queriam, mas respondeu dizendo:

Eu sou o pão vivo que desceu do céu (v. 51a). Eu lhes digo a verdade: Se vocês não comerem a carne do Filho do homem e não beberem o seu sangue, não terão vida em si mesmos. Todo aquele que come a minha carne e bebe o meu sangue tem a vida eterna, e eu o ressuscitarei no último dia (vv. 53-54).

Jesus ofendeu seu raciocínio teológico ao dizer que Ele era o pão vivo que desceu do céu (Jo 6.33-35). Ofendeu suas expectativas ao se recusar a realizar o sinal que queriam (Mt 12.39-40). E ofendeu seu senso de sabedoria e dignidade ao sugerir que comessem sua carne e bebessem seu sangue (Jo 6.53-54).
A primeira reação deles foi criticá-lo (Jo 6.41). Depois “começaram a discutir exaltadamente entre si” (v. 52). Até mesmo seus discípulos ficaram perplexos e disseram: “Dura é essa palavra. Quem pode suportá-la?” (v. 60).
Consciente de suas murmurações, Jesus perguntou: “Isso os escandaliza?” (v. 61). Por estarem escandalizados em suas mentes, até muitos de seus discípulos voltaram atrás e deixaram de seguir o Filho de Deus (v. 66).
Em toda a Bíblia, Deus é revelado como aquele que escandaliza e confunde os que julgam ter decifrado todos os enigmas e os que estão amarrados em suas tradições e expectativas de como Deus opera. Pode-se dizer que são pessoas que sofrem de “endurecimento de coração”. As palavras de Isaías são citadas várias vezes no Novo Testamento (veja 1 Pe 2.8 e 1 Co 1.23):

Ele será ... uma pedra de tropeço, uma rocha que faz cair (Is. 8.14a).

Jesus conhecia seus corações – sabia que a maioria amava suas tradições mais do que a Deus. Ele também sabia que aqueles que voltaram atrás em João 6 o estavam seguindo antes por motivos misturados. Ao ofender intencionalmente suas mentes, Ele estava revelando seus corações.
Ao ofender as pessoas com seus métodos, Deus revela o orgulho, a auto-suficiência e a falsa obediência escondidos no coração das pessoas.
O general Naamã, comandante das tropas sírias, tinha a doença da lepra. No seu desespero, foi procurar um profeta de Deus em Israel. Israel era inimigo militar da Síria.
Mas Eliseu apenas enviou uma mensagem a Naamã, dizendo: “Vá e lave-se sete vezes no rio Jordão; sua pele será restaurada e você ficará purificado” (2 Rs 5.10). O profeta nem mesmo se deu ao trabalho de sair de sua casa e ver este homem que viera de tão longe. Desnecessário dizer que Naamã, um proeminente líder militar na Síria, ficou tão ofendido que disse:

“Não são os rios Abana e Farfar, em Damasco, melhores do que todas as águas de Israel? Será que não poderia lavar-me neles e ser purificado?” E foi embora dali furioso (v. 12).

Conheço algumas pessoas desagradáveis que fazem questão de ofender as pessoas. A ofensa da parte de Deus, ao contrário, é redentora. Ele ofende a mente das pessoas para revelar o que está no coração. A Bíblia ensina que Deus dá graça aos humildes e resiste aos soberbos (Pv 3-34; Tg 4-6; 1 Pe 5.5-6). Lidar com o obstáculo do orgulho de Naamã era o primeiro e essencial passo para sua cura, que ele recebeu quando foi humildemente obediente às palavras de Eliseu.


             Ofendido Pelas Pessoas Que Deus Usa

Paulo escreveu que Deus ofende as pessoas, não apenas por sua mensagem, mas também por seus mensageiros:

Mas Deus escolheu o que para o mundo é loucura para envergonhar os sábios, e escolheu o que para o mundo é fraqueza para envergonhar o que é forte. Ele escolheu o que para o mundo é insignificante, desprezado e o que nada é, para reduzir a nada o que é, a fim de que ninguém se vanglorie diante dele (1 Co 1.27-29).

Entendo que o contexto deste princípio (a ofensa intencional por parte de Deus) se refere a questões muito mais amplas do que profetas esquisitos e manifestações excêntricas. Mas nestes casos, o princípio pode ser aplicado claramente.
Enquanto estava pastoreando em Saint Louis, a idéia de que Deus ofende a mente para revelar o que está no coração tornou-se muito real para mim. Preguei sobre isso várias vezes. Pensei que Deus estava nos preparando para um derramamento do Espírito Santo, que incluiria várias coisas incomuns. Cria fortemente na vontade e no poder de Deus para curar os enfermos. Pensei que talvez houvesse algumas curas inusitadas. Eu não tinha nenhuma experiência com o ministério profético como o conheço hoje.
Em retrospectiva, vejo que Ele estava me preparando para não me escandalizar com a excentricidade dos profetas que eu conheceria nos meses seguintes em Kansas City.


   Ofendido pela Excentricidade dos Métodos Proféticos


          Algumas pessoas são “diferentes” por sua própria personalidade e cultura, mas Deus os chamou assim mesmo. Outros são levados a fazer coisas estranhas em função de seu chamado e ministério proféticos.
          Comparados ao sujeito normal que trabalha numa fábrica, ali no seu bairro, alguns profetas podem parecer bem excêntricos. Levei um bom tempo para me acostumar com algumas de suas idiossincrasias que, no princípio, ofendiam muito a minha mente. A verdade é que algumas de suas idiossincrasias ainda me irritam, mas aprendi a passar por cima disto, a fim de receber as bênçãos de Deus através destes servos dele.
          Quando conheci Bob Jones, eu estava plenamente convencido que ele não era de Deus. Não tinha desejo nenhum de falar novamente com ele. Eu tinha muito pouca experiência com pessoas proféticas e nenhuma conclusão teológica sobre o assunto. Entretanto, minha firme convicção era que ele só podia ser um falso profeta.
          Hoje me surpreende lembrar como tinha conclusões definitivas sobre assuntos que não entendia, nem experimentara. Acho que isso se chama orgulho. Ao olhar para trás, vejo que um dos principais fatores que me influenciaram era o fato de Bob parecer e agir de forma tão estranha.
          Ela falava constantemente em parábolas. Eu sabia que Deus também fala em parábolas, mas o que ele falava era realmente estranho. Bob me contava histórias simbólicas, cheias de ilustrações para os quais eu não tinha interpretação alguma. Depois, ainda dizia que Deus lhe havia contado aquelas parábolas. Eu não tinha nenhuma base ou ponto de referência para fundamentar sua alegação de que Deus fala de modo tão abstrato às pessoas hoje.
          Seu estilo ministerial não parecia nada que eu tivesse visto anteriormente. Ele falava de sentir o sopro do Espírito ou que suas mãos ficavam aquecidas durante a ministração.
          Ele falava como uma pessoa sem cultura. Sua aparência era tal que jamais podia ser acusado de vaidade ou de ser dominado pela moda. De vez em quando, a camisa ou as calças que usava eram muito curtas. Às vezes, sua barriga aparecia quando ficava de pé e, quando se sentava, suas calças subiam uns oito centímetros acima das meias.
          Estas coisas sobre Bob Jones de algum modo me ofendiam – sua aparência, sua linguagem, sua revelação e seu estilo ministerial. Inicialmente, não conseguia imaginá-lo como um genuíno profeta de Deus e nem podia acreditar que era inspirado pelo Deus da Bíblia. Só depois de ver a precisão das suas palavras proféticas, com o passar de algum tempo, pude finalmente começar a aceitar seu estranho estilo ministerial. Seu amor por Jesus e pelas Escrituras também se tornaram muito evidentes. No fim, acabei me afeiçoando a ele. Há várias coisas que devemos ter em mente ao examinarmos métodos proféticos.


                       Pessoas Desequilibradas


          Algumas pessoas desequilibradas estão simplesmente tentando parecer estranhas, por causa de conceitos errados que têm a respeito do ministério profético. Eles se empolgam com a idéia de profetas excêntricos e agem intencionalmente fora da normalidade. Supõem que sua estranheza os tornará mais ungidos.
          Não creio que só porque alguém é profeta, esta pessoa deva necessariamente agir de maneira estranha ou ser perseguida. Algumas pessoas procuram uma desculpa nisto para fazer toda espécie de coisa, alegando que ninguém poderá entendê-las a não ser que também tenha unção profética. Não aceito isso, nem por um segundo.
          Algumas pessoas gostam da excentricidade de Bob Jones e tentam imitá-la, porque acham que representa espiritualidade quando, na verdade, são aspectos de sua própria personalidade e criação. Às vezes, métodos estranhos são apenas estranhos. Não é um caso de Deus ofendendo a mente das pessoas, mas apenas do profeta possuir um método e um estilo incomum. Tais coisas precisam ser corrigidas jeitosamente, no caso do profeta querem funcionar em reuniões públicas.


                          Os Profetas são Solitários?


          A Bíblia fala de “grupos” ou “discípulos” de profetas (1 Sm 10.10; 2 Rs 4.1e 5.22). Isto nos lembra que há uma dimensão coletiva para se desenvolver os dons proféticos entre o povo de Deus. Não é sempre necessário que um profeta ouça de Deus isoladamente, para depois entregar esta palavra em público. Outros cristãos mais maduros podem ajudar os que têm menos experiência a acurar sua audição e discernimento espirituais, quando se desenvolve o ministério profético na igreja como todo.


                Estilos Ministeriais Não Convencionais


          Estilos não convencionais não invalidam necessariamente a mensagem de um profeta. Não ignore algo, simplesmente porque é incomum.
          Não havia nenhum precedente no Antigo Testamento para que Paulo enviasse seus lenços aos enfermos (At 19.12), ou para Jesus aplicar barro nos olhos de um cego. Jesus nos disse para julgarmos os frutos de um profeta, não sua metodologia – a menos, obviamente, que estes métodos violem claramente um texto ou princípio bíblico (Mt 7.15-20).
          Se as pessoas têm um histórico de profecias acuradas, você pode levá-la mais a sério, mesmo que sua metodologia pareça um pouco heterodoxa. Às vezes, sua “metodologia” nada mais é que seguir instruções do Espírito Santo. Levou um certo tempo para que cada membro de nossa equipe de profetas alcançasse credibilidade entre nós. Pessoas que não têm dons proféticos comprovados não parecem ter tanta latitude com outros cristãos para fazerem coisas não convencionais.


                            Processo de Correção


          Os pastores precisam tomar cuidado de não corrigir as pessoas abruptamente, especialmente em reuniões públicas. Devemos lidar com elas em amor; primeiramente, porque são importantes para Deus e, depois, porque se não as corrigirmos de maneira correta, os outros não sentirão confiança de avançar em fé e ministrar na igreja.
          Em nossa igreja, usamos uma série de passos corretivos. Se alguém profetiza algo que, no nosso discernimento, é carnal, deixamos passar a primeira vez, a menos que seja claramente antibíblico ou de natureza destrutiva. As pessoas precisam ter espaço para errar, sem o temor de que alguém os corrigirá tão rápido.
          Se o problema ocorre novamente, então conversamos com a pessoa com bastante jeito e sugerimos que use um pouco mais de autocontrole. Se acontecer pela terceira vez, pedimos em particular que não o faça mais, advertindo que da próxima vez a interromperemos publicamente. Se for repetido novamente, confrontamos a questão publicamente.
          Neste caso, explicamos publicamente todo o processo que usamos. Isto ajuda as pessoas a entender que a correção não foi abrupta e dura. Dizemos à congregação que esta pessoa foi instruída e advertida várias vezes. Os demais membros precisam estar seguros de que não serão publicamente repreendidos sem prévios avisos.
          A maioria das pessoas realmente quer abençoar a outros sob a ordem de Deus. Comunicar todo o processo publicamente evita que as pessoas tenham medo de avançar em fé e reforça o fato de que a liderança da igreja tratará diretamente com este tipo de situação.


                           O “Agora” do Espírito


          O ministério profético não pode ser um fim em si mesmo. Seu propósito é sempre reforçar e promover algo maior e mais valioso do que a si mesmo. Como já mencionei, um dos impactos significativos do ministério profético na Metro Christian, em Kansas City, foi o fortalecimento de nossa perseverança e do nosso compromisso com a intercessão por um avivamento na cidade e na nação.
          As pessoas se perdem quando se permitem estar mais focadas nos meios inusitados da mensagem do que no propósito de Deus, por meio daquela mensagem. Não importa se a mensagem vem de um profeta cinco estrelas, que tem confirmações do tipo “mover montanhas”, ou se é algo que simplesmente parece bom a todos os envolvidos. A mensagem é sempre mais importante que o método.
          Quando falo sobre nutrir e supervisionar o ministério profético na igreja local, o objetivo é sempre o que Deus quer realizar por meio do profético; não queremos simplesmente promover vasos proféticos. A experiência tem demonstrado que a própria essência do ministério profético é alertar a igreja para a importância do “agora” na ação do Espírito Santo. Ele nos desperta para a vontade e o propósito de Deus para nós no presente – o que Ele quer fazer especificamente em nós e através de nós.
          Este aspecto do presente é um complemento à outra dimensão de nossa fé e relacionamento com Deus, que está firmada para sempre – a obra de Jesus na cruz e as Escrituras. Enquanto os dons proféticos nos revelam a “palavra do agora” (como alguns dizem), os pastores e mestres fortalecem nossos alicerces na Palavra de Deus, firmada para sempre nos céus.
          Amo ambas estas dimensões. Amo doutrina e teologia, especialmente teologia sobre a beleza e a majestade dos atributos de Deus. Também anseio pela manifestação da presença e do propósito de Deus, revelados em nosso meio através daqueles que são mais dotados de dons proféticos. Quem pode estar satisfeito com uma religião estática, que funciona, quer Deus esteja ativamente presente, quer não esteja? O cristianismo genuíno é tanto é consistente na doutrina como vibrante na experiência.
          O lado subjetivo de nossa fé sempre deve ser minuciosamente analisado à luz do lado objetivo, mas ambos são essenciais. Deus sempre trabalha para unir a Palavra e o Espírito em nossas vidas. Alguém disse, certa vez: “Quando temos a Palavra sem o Espírito, secamo-nos. Quando temos o Espírito sem a Palavra, explodimo-nos. Mas quando temos a Palavra e o Espírito juntos, amadurecemo-nos.”
          Nosso desejo é por Deus e não apenas por conhecimento acerca dele. Tenho sede do vento fresco do Espírito, soprando em nossos corações e em nosso meio.
          Nutrir e supervisionar o ministério profético entre nós é apenas uma preocupação secundária – um meio para se atingir um fim. Minha real preocupação é nutrir e administrar o livre e fresco mover do Espírito Santo nas vidas de todos os membros da nossa igreja.
          O “problema”, como você já deve saber, é que não se pode prever, administrar ou controlar o mover do Espírito Santo. Não podemos impor nossos programas, nossas expectativas preconcebidas e nossas demandas sobre a soberania de Deus, que se manifesta através do Espírito Santo.


         Ofendido com o Derramamento do Espírito Santo


          As pessoas são escandalizadas de diversas maneiras pelo Senhor. Alguns se escandalizam até pela própria mensagem da cruz. Há aqueles que se ofendem pelo tipo de pessoa que Deus usa. Outros se ofendem com a maneira que o Espírito Santo age. Eu não estava preparado para manifestações inusitadas do Espírito, mas estava ainda menos preparado para as pessoas incomuns que Deus iria acrescentar à nossa equipe.
          Quando o poder do Espírito Santo é derramado, isto se dá, às vezes, de maneiras inesperadas; conseqüentemente, pode ser ridicularizado e rejeitado. No primeiro Grande Despertamento da América, como no dia de Pentecostes, várias coisas estranhas aconteceram.
          Em outubro de 1741, o reverendo Samuel Johnson, na época deão substituto da Universidade Yale, tinha reservas quanto ao avivamento que estava varrendo a Nova Inglaterra, liderado pelo pregador itinerante, George Whitefield. Ele escreveu uma carta ansiosa para um amigo na Inglaterra:

Este novo entusiasmo, resultado da pregação de Whitefield pelo país, está bem disseminado aqui na Universidade (Yale)... Muitos estudantes foram contaminados por ele, e dois dos candidatos deste ano tiveram seu diploma negado, por conta de seus esforços desordeiros e incansáveis para propagá-lo... Temos agora avançando aqui entre nós a mais estranha e inexplicável onda de entusiasmo, talvez de todas as épocas ou nações. Pois não apenas a mente de muitas pessoas fica impactada com tremenda angústia, ao ouvirem os medonhos gritos destes pregadores itinerantes, mas até mesmo seus corpos são freqüentemente afetados, de uma hora para outra, pelas mais estranhas convulsões, agitações e contrações involuntárias, que às vezes atingem até mesmo aqueles que vão como meros espectadores.¹

A esposa de Jonathan Edwards, Sarah, também foi profundamente afetada pelo poder e pela presença do Espírito Santo. Em suas próprias palavras, ela descreveu como foi tomada pela presença de Deus, num período de tempo que durou mais de dezessete dias, de tal forma que perdia todas suas forças e ficava prostrada. Em outras ocasiões, não conseguia se conter e pulava e gritava de alegria.²
Jonathan Edwards era um defensor do mover do Espírito, mas esta maneira extrema em que as pessoas eram afetadas foi demais para os conservadores líderes da Nova Inglaterra. Sua respeitabilidade foi ofendida, e passaram a condenar completamente o movimento, principalmente por causa do excessivo entusiasmo e das manifestações nada convencionais do poder do Espírito.
O doutor Sam Storms ingressou na nossa equipe em agosto de 1993, como Presidente de Grace Training Center (Centro de Treinamento Graça), nosso instituto bíblico de período integral em Kansas City. O Dr. Storms formou-se no Seminário Teológico de Dallas (no Texas) e obteve um Ph.D. em história intelectual, na Universidade do Texas em Dallas. Sam era um pouco cético acerca destes manifestações espontâneas e explosivas das pessoas, supostamente causadas pelo Espírito Santo.
Na Conferência das Igrejas Vineyard, em abril de 1994 em Dallas, seu ceticismo acabou. Sam estava no fundo do auditório quando o poder do Espírito Santo caiu sobre ele. Primeiro, começou a orar e a chorar, enquanto o Senhor ministrava às necessidades mais profundas de seu coração. Pouco depois disto, ele abruptamente pulou de sua cadeira e começou a rir histericamente, apesar de todos seus esforços desesperados para se controlar.
No final da conferência, ele ainda estava enfraquecido pela presença de Deus. Finalmente, suas forças retornaram e alguns de nós ajudaram Sam a se levantar para ir ao carro. Mas no estacionamento aconteceu novamente. Sam caiu repetidamente, correndo o risco de estragar suas roupas requintadas.
Vinte minutos depois, conseguimos levá-lo ao refeitório, onde o poder de Deus o atingiu novamente. Quando pensamos que já havia passado tudo, chegamos ao quarto do hotel e percebemos que Sam não estava entre nós. Ele ainda estava nas escadas, incapacitado pelo poder de Deus.
O fruto do encontro de Sam com o Espírito Santo foi uma fé renovada, uma reverência maior pelo poder de Deus e algo que o apóstolo Pedro descreveu como “alegria indizível e gloriosa” (1 Pe 1.8).


            Bem-aventurados São Aqueles Que Não Se                                             Escandalizam


          Em diversas ocasiões, tanto os fariseus quanto os discípulos não conseguiram compreender Jesus e, conseqüentemente, ambos ficaram ofendidos.
          Geralmente, pensamos nos fariseus como pessoas muito más. Na verdade, eram os conservadores intelectuais e defensores da fé, que tinham na ortodoxia sua arma contra a influência corruptora da cultura grega. Sua pedra de tropeço era o orgulho que tinham na integridade de suas interpretações da lei (tradição dos anciãos). Estavam contentes com sua ortodoxia, mas não tinham fome do próprio Deus.
          Os discípulos ficaram ofendidos também. Nos Evangelhos Sinópticos (Mateus, Marcos e Lucas), podemos ver uma linha contínua de profunda incapacidade, por parte dos discípulos, de entender o que estava acontecendo.
          Aqueles que se escandalizaram e que se afastaram de Jesus, quando Ele disse “Eu sou o pão vivo que desceu do céu” (Jo 6.51a), não eram fariseus, mas seus discípulos (seguidores que não faziam parte do grupo dos doze). Apesar de ter ensinado com grande sabedoria e operado alguns milagres em sua própria cidade, seus amigos “ficavam escandalizados por causa dele” (Mt 13.57).
          A palavra grega mais usada no Novo Testamento para “escandalizar” é também traduzida como “tropeçar”. É a palavra skandalizo, de onde se deriva a palavra escândalo, em português. Deus até escandaliza ou ofende a mente de seu próprio povo. Ao ofender a mente das pessoas, Ele revela aquelas coisas no seu coração que os faz tropeçar. Jesus é revelado na Bíblia como o Caminho, a Verdade, o Pão da Vida e a Porta. Ele também é “uma pedra de tropeço, uma rocha que faz cair” (Is 8.14).
          O que mais vem à luz num coração escandalizado é a falta de fome por Deus e a falta de humildade. Ao olhos de Deus, estas são duas características muito importantes do coração.
          Nem o funcionamento do ministério profético neotestamentário, nem o ministério sobrenatural do Espírito Santo são ciências exatas. São áreas que desafiam nosso indevido senso de controle e nossos paradigmas religiosos. Foram designados por Deus exatamente para este propósito!
          Verdadeiro cristianismo é uma relação dinâmica com o Deus vivo e não pode ser reduzido a fórmulas e ortodoxia estéril. Nosso chamamento é para abraçar o mistério de Deus e não cobiçar uma conveniente e racional explicação para cada doutrina ou questionamento que encontramos. Nossa sede por uma relação pessoal com o próprio Deus deve ser muito mais forte do que este impulso interior de querer compreender perfeitamente cada fato.
          Nossa humildade diante de Deus deve nos ensinar que nunca teremos todas as respostas, ao menos não nesta era. Já não é muito fácil conviver conosco do jeito que as coisas são agora. Enquanto estivermos neste corpo carnal, acredito que possuirmos onisciência (todas as respostas) não nos tornaria melhores neste sentido.


                 Orgulho Religioso de Auto-suficiência


          Jesus trata diretamente com a raiz da auto-satisfação e do orgulho religioso:

Vocês estudam cuidadosamente as Escrituras, porque pensam que nelas vocês têm a vida eterna. E são as Escrituras que testemunham a meu respeito; contudo, vocês não querem vir a mim para terem vida. Eu não aceito glória dos homens, mas conheço vocês. Sei que vocês não têm o amor de Deus (Jo 5.39-42).

Como vocês podem crer, se aceitam glória uns dos outros, mas não procuram a glória que vem do Deus único? (v. 44).

Estes judeus religiosos foram enganados ao achar que seu conhecimento das Escrituras e sua associação com a comunidade religiosa eram equivalentes ao conhecimento de Deus. Entretanto, na verdade, recusavam-se teimosamente a ter um relacionamento pessoal com Deus através de seu representante pessoal, Jesus. Orgulhavam-se de seu conhecimento das Escrituras, enquanto rejeitavam o autor das Escrituras.
Quando o Senhor estava começando a desafiar Michael Sullivant a caminhar dentro do seu chamado profético, ele teve um dramático sonho espiritual que tocou nestas áreas do seu coração. O Senhor lhe apareceu, olhou-o nos olhos e disse: “Você está esperando para me obedecer, até que tenha planos compreensíveis. Quero que me obedeça sem ter planos compreensíveis.”
Enquanto Michael estava ajoelhado diante de Jesus, um pilha de transparências saiu de sua barriga e foi parar em suas mãos. Ele entendeu que estas transparências representavam seus próprios planos, que o Senhor via claramente. Michael se sentiu envergonhado e profundamente triste; inclinou sua cabeça e começou a chorar e a se arrepender. Dizia: “Senhor, não quero desobedecer-lhe.”
Depois disso, ele olhou para o Senhor em meio às suas lágrimas, e Jesus estava sorrindo para ele.
Para entregar sua vida a este chamado, Michael teve que passar por alguns tratamentos de Deus bem severos, em relação ao seu intelectualismo e auto-confiança em seu ministério e estilo de relacionar-se com pessoas. Estes tratamentos incluíram repreensões em particular e até mesmo um grau de humilhação pública para ajudá-lo a humilhar-se perante o Senhor.
Há alguns anos, quando Michael era o pastor líder na Metro Vineyard Fellowship, o Senhor retirou sua unção de pregação pastoral e ensino por um tempo. Esta mudança ficou óbvia para quase todos na igreja e levou-o a uma mudança de função, em que não precisava pregar tão freqüentemente.
Poucos dias depois disso, Paul Cain, que não sabia nada do que estava acontecendo, profetizou publicamente a Michael e sua esposa, Terri, que a intenção de Deus era “mudar sua vocação” e guiá-lo por um caminho profético. Ele os assegurou que as mudanças que haviam ocorrido não eram um rebaixamento, mas um plano designado para trazer maior glória a Deus através de suas vidas.
Todos nós devemos aceitar de bom grado qualquer coisa que for necessária para estabelecer e experimentar uma relação mais íntima com o Pai, o Filho e o Espírito Santo. Deus coloca diante de nós algumas pedras de tropeço estratégicas, no evangelho e no nosso caminhar com o Espírito, a fim de testar nosso coração. Se estivermos sedentos por Deus e humildes de coração, estas pedras de tropeço, na verdade, se tornam pedras de apoio que nos ajudam a caminhar em direção aos seus propósitos para as nossas vidas.