Capítulo 5
Deus Ofende a Mente
para
Revelar o Coração
A introdução do ministério
profético em nossa igreja foi difícil para mim porque eu desprezava o
comportamento excêntrico de algumas das pessoas que Deus usava. Tinha dificuldade,
também, em aceitar alguns dos seus métodos insólitos, totalmente estranhos a
toda minha formação evangélica e experiência anterior.
Não era apenas o ministério
profético que me incomodava; as outras manifestações do Espírito Santo, também,
geralmente contrariavam meu senso de ordem e respeito. Antes que pudesse
caminhar junto com o que Deus queria fazer conosco, como igreja, eu precisava
lidar com aquilo que ofendia minha razão.
Nós, cristãos, criamos uma
série de pressuposições religiosas sobre como Deus lida conosco. Ele é
cavalheiro, dizemos, alguém que nunca arromba a porta, mas polidamente aguarda
do lado de fora, batendo com educação e esperando pacientemente.
Pensamos do Espírito Santo
como alguém extremamente tímido ou sobressaltado. Se quisermos que o Espírito
Santo aja, é necessário ficar parados e quietos. Se um bebê chorar, de acordo
com alguns, o Espírito Santo pode se retirar ou talvez se assustar. Isto parece
ridículo, mas muitas pessoas, tanto pentecostais como evangélicos tradicionais,
vivem sob pressupostos como esse.
Paulo instruiu os coríntios
a não proibir línguas ou profecia, mas que tudo fosse feito “com decência e
ordem” (1 Co 14.40). Nossa equipe de liderança tem se empenhado muito em
criar uma atmosfera em que o livre fluir dos dons espirituais aconteça em
“decência e em ordem”.
Mas alguns têm interpretado
a instrução de Paulo, para advertir às pessoas que agem na carne, de maneira a
sugerir que o Espírito Santo só opera nos parâmetros estabelecidos por nosso
senso de ordem e respeitabilidade. Não foi assim que ocorreu no Antigo
Testamento, nem na Igreja Primitiva, nem nos avivamentos ao longo da história.
Duas coisas são claras.
Primeiro, o Espírito Santo não parece estar muito preocupado com nossa
reputação.
O derramamento do Espírito
Santo não contribuiu muito para edificar a reputação daqueles que esperavam
naquele cenáculo. “Estes homens não estão bêbados, como vocês supõem”,
disse Pedro. Algumas pessoas, quando cheias do Espírito, parecem estar bêbadas.
Posso imaginar Pedro pregando seu sermão em Atos 2, enquanto ele mesmo ainda
sentia alguns dos santos efeitos do êxtase dos céus.
Pedro dirigiu seu primeiro
sermão aos forasteiros que estavam em Jerusalém para a festa de Pentecostes.
Muitos destes ficaram maravilhados e perplexos ao ouvirem louvores a Deus em
suas próprias línguas (At 2.8-12).
Mas Pedro também pregou aos
mais religiosos de todos, os fariseus hebraicos da Judéia que, ao serem
ofendidos em suas mentes, zombaram deles dizendo: “Eles beberam vinho demais”
(v.13). O comportamento dos discípulos pode ter parecido totalmente
incompreensível aos olhos dos líderes religiosos, no entanto, tratava-se da
obra do Espírito Santo.
Um segundo fato sobre o
modo como o Espírito trata conosco é este: Contrariando a imagem que temos
dele, de educação, timidez e cavalheirismo, Ele intencionalmente escandaliza
as pessoas.
Deus agradou-se em ofender
os gentios pela loucura do Evangelho e em fazer os judeus tropeçarem no
escândalo da cruz (1 Co 1.21-23). Paulo advertiu os gálatas que se começassem a
exigir a prática da circuncisão, como queriam os judeus, então “o escândalo
da cruz foi removido”. A implicação é que o evangelho, pelo próprio
desígnio de Deus, às vezes escandaliza.
A Ofensa Intencional
Um bom exemplo de como Deus
ofende intencionalmente as pessoas está em João 6. Jesus havia alimentado cinco
mil pessoas com a multiplicação dos peixes e dos pães. Agora esperavam que o
Messias provasse sua divindade através de grandes sinais, algo maior do que
multiplicar pão ou curar pessoas. Estavam antecipando mais comparável a abrir o
Mar Vermelho, fender o Monte das Oliveiras ou trazer fogo dos céus. Perguntaram
a Jesus:
Que sinal miraculoso mostrarás para que o vejamos e creiamos
em ti? Que farás? Os nossos antepassados comeram o maná no deserto (Jo 6.30-31a).
Em outras palavras, estavam
pedindo que Jesus fizesse algo como fazer cair maná dos céus novamente. Jesus
não fez o sinal que queriam, mas respondeu dizendo:
Eu sou o pão vivo que desceu do céu (v. 51a). Eu lhes digo a verdade: Se vocês não
comerem a carne do Filho do homem e não beberem o seu sangue, não terão vida em
si mesmos. Todo aquele que come a minha carne e bebe o meu sangue tem a vida
eterna, e eu o ressuscitarei no último dia (vv.
53-54).
Jesus ofendeu seu raciocínio teológico ao dizer que Ele era o
pão vivo que desceu do céu (Jo 6.33-35). Ofendeu suas expectativas ao se
recusar a realizar o sinal que queriam (Mt 12.39-40). E ofendeu seu senso de
sabedoria e dignidade ao sugerir que comessem sua carne e bebessem seu sangue
(Jo 6.53-54).
A primeira reação deles foi criticá-lo (Jo 6.41). Depois
“começaram a discutir exaltadamente entre si” (v. 52). Até mesmo seus
discípulos ficaram perplexos e disseram: “Dura é essa palavra. Quem pode
suportá-la?” (v. 60).
Consciente de suas murmurações, Jesus perguntou: “Isso os
escandaliza?” (v. 61). Por estarem escandalizados em suas mentes, até
muitos de seus discípulos voltaram atrás e deixaram de seguir o Filho de Deus
(v. 66).
Em toda a Bíblia, Deus é revelado como aquele que escandaliza
e confunde os que julgam ter decifrado todos os enigmas e os que estão
amarrados em suas tradições e expectativas de como Deus opera. Pode-se dizer
que são pessoas que sofrem de “endurecimento de coração”. As palavras de Isaías
são citadas várias vezes no Novo Testamento (veja 1 Pe 2.8 e 1 Co 1.23):
Ele será ... uma pedra de tropeço, uma rocha que faz cair (Is. 8.14a).
Jesus conhecia seus corações – sabia que a maioria amava suas
tradições mais do que a Deus. Ele também sabia que aqueles que voltaram atrás
em João 6 o estavam seguindo antes por motivos misturados. Ao ofender
intencionalmente suas mentes, Ele estava revelando seus corações.
Ao ofender as pessoas com seus métodos, Deus revela o
orgulho, a auto-suficiência e a falsa obediência escondidos no coração das
pessoas.
O general Naamã, comandante das tropas sírias, tinha a doença
da lepra. No seu desespero, foi procurar um profeta de Deus em Israel. Israel
era inimigo militar da Síria.
Mas Eliseu apenas enviou uma mensagem a Naamã, dizendo: “Vá
e lave-se sete vezes no rio Jordão; sua pele será restaurada e você ficará
purificado” (2 Rs 5.10). O profeta nem mesmo se deu ao trabalho de sair de
sua casa e ver este homem que viera de tão longe. Desnecessário dizer que
Naamã, um proeminente líder militar na Síria, ficou tão ofendido que disse:
“Não são os rios Abana e Farfar, em Damasco, melhores do que
todas as águas de Israel? Será que não poderia lavar-me neles e ser
purificado?” E foi embora dali furioso (v. 12).
Conheço algumas pessoas desagradáveis que fazem questão de
ofender as pessoas. A ofensa da parte de Deus, ao contrário, é redentora. Ele
ofende a mente das pessoas para revelar o que está no coração. A Bíblia ensina
que Deus dá graça aos humildes e resiste aos soberbos (Pv 3-34; Tg 4-6; 1 Pe
5.5-6). Lidar com o obstáculo do orgulho de Naamã era o primeiro e essencial
passo para sua cura, que ele recebeu quando foi humildemente obediente às
palavras de Eliseu.
Ofendido Pelas Pessoas Que Deus Usa
Paulo escreveu que Deus ofende as pessoas, não apenas por sua
mensagem, mas também por seus mensageiros:
Mas Deus escolheu o que para o mundo é loucura para
envergonhar os sábios, e escolheu o que para o mundo é fraqueza para
envergonhar o que é forte. Ele escolheu o que para o mundo é insignificante,
desprezado e o que nada é, para reduzir a nada o que é, a fim de que ninguém se
vanglorie diante dele (1 Co 1.27-29).
Entendo que o contexto deste princípio (a ofensa intencional
por parte de Deus) se refere a questões muito mais amplas do que profetas
esquisitos e manifestações excêntricas. Mas nestes casos, o princípio pode ser
aplicado claramente.
Enquanto estava pastoreando em Saint Louis, a idéia de que
Deus ofende a mente para revelar o que está no coração tornou-se muito real
para mim. Preguei sobre isso várias vezes. Pensei que Deus estava nos
preparando para um derramamento do Espírito Santo, que incluiria várias coisas
incomuns. Cria fortemente na vontade e no poder de Deus para curar os enfermos.
Pensei que talvez houvesse algumas curas inusitadas. Eu não tinha nenhuma
experiência com o ministério profético como o conheço hoje.
Em retrospectiva, vejo que Ele estava me preparando para não
me escandalizar com a excentricidade dos profetas que eu conheceria nos meses
seguintes em Kansas City.
Ofendido pela Excentricidade dos Métodos Proféticos
Algumas pessoas são
“diferentes” por sua própria personalidade e cultura, mas Deus os chamou assim
mesmo. Outros são levados a fazer coisas estranhas em função de seu chamado e
ministério proféticos.
Comparados ao
sujeito normal que trabalha numa fábrica, ali no seu bairro, alguns profetas
podem parecer bem excêntricos. Levei um bom tempo para me acostumar com algumas
de suas idiossincrasias que, no princípio, ofendiam muito a minha mente. A
verdade é que algumas de suas idiossincrasias ainda me irritam, mas aprendi a
passar por cima disto, a fim de receber as bênçãos de Deus através destes
servos dele.
Quando conheci
Bob Jones, eu estava plenamente convencido que ele não era de Deus. Não tinha
desejo nenhum de falar novamente com ele. Eu tinha muito pouca experiência com
pessoas proféticas e nenhuma conclusão teológica sobre o assunto. Entretanto,
minha firme convicção era que ele só podia ser um falso profeta.
Hoje me
surpreende lembrar como tinha conclusões definitivas sobre assuntos que não
entendia, nem experimentara. Acho que isso se chama orgulho. Ao olhar para
trás, vejo que um dos principais fatores que me influenciaram era o fato de Bob
parecer e agir de forma tão estranha.
Ela falava
constantemente em parábolas. Eu sabia que Deus também fala em parábolas, mas o
que ele falava era realmente estranho. Bob me contava histórias
simbólicas, cheias de ilustrações para os quais eu não tinha interpretação
alguma. Depois, ainda dizia que Deus lhe havia contado aquelas parábolas. Eu
não tinha nenhuma base ou ponto de referência para fundamentar sua alegação de
que Deus fala de modo tão abstrato às pessoas hoje.
Seu estilo
ministerial não parecia nada que eu tivesse visto anteriormente. Ele falava de
sentir o sopro do Espírito ou que suas mãos ficavam aquecidas durante a
ministração.
Ele falava
como uma pessoa sem cultura. Sua aparência era tal que jamais podia ser acusado
de vaidade ou de ser dominado pela moda. De vez em quando, a camisa ou as
calças que usava eram muito curtas. Às vezes, sua barriga aparecia quando
ficava de pé e, quando se sentava, suas calças subiam uns oito centímetros
acima das meias.
Estas coisas
sobre Bob Jones de algum modo me ofendiam – sua aparência, sua linguagem, sua
revelação e seu estilo ministerial. Inicialmente, não conseguia imaginá-lo como
um genuíno profeta de Deus e nem podia acreditar que era inspirado pelo Deus da
Bíblia. Só depois de ver a precisão das suas palavras proféticas, com o passar
de algum tempo, pude finalmente começar a aceitar seu estranho estilo
ministerial. Seu amor por Jesus e pelas Escrituras também se tornaram muito
evidentes. No fim, acabei me afeiçoando a ele. Há várias coisas que devemos ter
em mente ao examinarmos métodos proféticos.
Pessoas Desequilibradas
Algumas pessoas
desequilibradas estão simplesmente tentando parecer estranhas, por causa de
conceitos errados que têm a respeito do ministério profético. Eles se empolgam
com a idéia de profetas excêntricos e agem intencionalmente fora da
normalidade. Supõem que sua estranheza os tornará mais ungidos.
Não creio que
só porque alguém é profeta, esta pessoa deva necessariamente agir de
maneira estranha ou ser perseguida. Algumas pessoas procuram uma desculpa nisto
para fazer toda espécie de coisa, alegando que ninguém poderá entendê-las a não
ser que também tenha unção profética. Não aceito isso, nem por um segundo.
Algumas
pessoas gostam da excentricidade de Bob Jones e tentam imitá-la, porque acham
que representa espiritualidade quando, na verdade, são aspectos de sua própria
personalidade e criação. Às vezes, métodos estranhos são apenas estranhos. Não
é um caso de Deus ofendendo a mente das pessoas, mas apenas do profeta possuir
um método e um estilo incomum. Tais coisas precisam ser corrigidas
jeitosamente, no caso do profeta querem funcionar em reuniões públicas.
Os Profetas são Solitários?
A Bíblia fala de “grupos”
ou “discípulos” de profetas (1 Sm 10.10; 2 Rs 4.1e 5.22). Isto nos lembra que
há uma dimensão coletiva para se desenvolver os dons proféticos entre o povo de
Deus. Não é sempre necessário que um profeta ouça de Deus isoladamente, para
depois entregar esta palavra em público. Outros cristãos mais maduros podem
ajudar os que têm menos experiência a acurar sua audição e discernimento
espirituais, quando se desenvolve o ministério profético na igreja como todo.
Estilos Ministeriais Não Convencionais
Estilos não
convencionais não invalidam necessariamente a mensagem de um profeta. Não
ignore algo, simplesmente porque é incomum.
Não havia
nenhum precedente no Antigo Testamento para que Paulo enviasse seus lenços aos
enfermos (At 19.12), ou para Jesus aplicar barro nos olhos de um cego. Jesus
nos disse para julgarmos os frutos de um profeta, não sua metodologia – a
menos, obviamente, que estes métodos violem claramente um texto ou princípio
bíblico (Mt 7.15-20).
Se as pessoas
têm um histórico de profecias acuradas, você pode levá-la mais a sério, mesmo
que sua metodologia pareça um pouco heterodoxa. Às vezes, sua “metodologia”
nada mais é que seguir instruções do Espírito Santo. Levou um certo tempo para
que cada membro de nossa equipe de profetas alcançasse credibilidade entre nós.
Pessoas que não têm dons proféticos comprovados não parecem ter tanta latitude
com outros cristãos para fazerem coisas não convencionais.
Processo de Correção
Os pastores precisam tomar
cuidado de não corrigir as pessoas abruptamente, especialmente em reuniões
públicas. Devemos lidar com elas em amor; primeiramente, porque são importantes
para Deus e, depois, porque se não as corrigirmos de maneira correta, os outros
não sentirão confiança de avançar em fé e ministrar na igreja.
Em nossa
igreja, usamos uma série de passos corretivos. Se alguém profetiza algo que, no
nosso discernimento, é carnal, deixamos passar a primeira vez, a menos que seja
claramente antibíblico ou de natureza destrutiva. As pessoas precisam ter
espaço para errar, sem o temor de que alguém os corrigirá tão rápido.
Se o problema
ocorre novamente, então conversamos com a pessoa com bastante jeito e sugerimos
que use um pouco mais de autocontrole. Se acontecer pela terceira vez, pedimos
em particular que não o faça mais, advertindo que da próxima vez a
interromperemos publicamente. Se for repetido novamente, confrontamos a questão
publicamente.
Neste caso,
explicamos publicamente todo o processo que usamos. Isto ajuda as pessoas a
entender que a correção não foi abrupta e dura. Dizemos à congregação que esta
pessoa foi instruída e advertida várias vezes. Os demais membros precisam estar
seguros de que não serão publicamente repreendidos sem prévios avisos.
A maioria das
pessoas realmente quer abençoar a outros sob a ordem de Deus. Comunicar todo o
processo publicamente evita que as pessoas tenham medo de avançar em fé e
reforça o fato de que a liderança da igreja tratará diretamente com este tipo
de situação.
O “Agora” do Espírito
O ministério profético não
pode ser um fim em si mesmo. Seu propósito é sempre reforçar e promover algo
maior e mais valioso do que a si mesmo. Como já mencionei, um dos impactos
significativos do ministério profético na Metro Christian, em
Kansas City, foi o fortalecimento de nossa perseverança e do nosso compromisso
com a intercessão por um avivamento na cidade e na nação.
As pessoas se
perdem quando se permitem estar mais focadas nos meios inusitados da mensagem
do que no propósito de Deus, por meio daquela mensagem. Não importa se a
mensagem vem de um profeta cinco estrelas, que tem confirmações do tipo “mover
montanhas”, ou se é algo que simplesmente parece bom a todos os envolvidos. A
mensagem é sempre mais importante que o método.
Quando falo
sobre nutrir e supervisionar o ministério profético na igreja local, o objetivo
é sempre o que Deus quer realizar por meio do profético; não queremos
simplesmente promover vasos proféticos. A experiência tem demonstrado que a
própria essência do ministério profético é alertar a igreja para a importância
do “agora” na ação do Espírito Santo. Ele nos desperta para a vontade e o
propósito de Deus para nós no presente – o que Ele quer fazer
especificamente em nós e através de nós.
Este aspecto
do presente é um complemento à outra dimensão de nossa fé e relacionamento com
Deus, que está firmada para sempre – a obra de Jesus na cruz e as Escrituras.
Enquanto os dons proféticos nos revelam a “palavra do agora” (como alguns
dizem), os pastores e mestres fortalecem nossos alicerces na Palavra de Deus,
firmada para sempre nos céus.
Amo ambas
estas dimensões. Amo doutrina e teologia, especialmente teologia sobre a beleza
e a majestade dos atributos de Deus. Também anseio pela manifestação da
presença e do propósito de Deus, revelados em nosso meio através daqueles que
são mais dotados de dons proféticos. Quem pode estar satisfeito com uma religião
estática, que funciona, quer Deus esteja ativamente presente, quer não esteja?
O cristianismo genuíno é tanto é consistente na doutrina como vibrante na
experiência.
O lado subjetivo de nossa
fé sempre deve ser minuciosamente analisado à luz do lado objetivo, mas ambos
são essenciais. Deus sempre trabalha para unir a Palavra e o Espírito em nossas
vidas. Alguém disse, certa vez: “Quando temos a Palavra sem o Espírito,
secamo-nos. Quando temos o Espírito sem a Palavra, explodimo-nos. Mas quando
temos a Palavra e o Espírito juntos, amadurecemo-nos.”
Nosso desejo é
por Deus e não apenas por conhecimento acerca dele. Tenho sede do vento
fresco do Espírito, soprando em nossos corações e em nosso meio.
Nutrir e
supervisionar o ministério profético entre nós é apenas uma preocupação
secundária – um meio para se atingir um fim. Minha real preocupação é nutrir e
administrar o livre e fresco mover do Espírito Santo nas vidas de todos os
membros da nossa igreja.
O “problema”,
como você já deve saber, é que não se pode prever, administrar ou controlar o
mover do Espírito Santo. Não podemos impor nossos programas, nossas
expectativas preconcebidas e nossas demandas sobre a soberania de Deus, que se
manifesta através do Espírito Santo.
Ofendido com o Derramamento do Espírito Santo
As pessoas são
escandalizadas de diversas maneiras pelo Senhor. Alguns se escandalizam até
pela própria mensagem da cruz. Há aqueles que se ofendem pelo tipo de pessoa
que Deus usa. Outros se ofendem com a maneira que o Espírito Santo age. Eu não
estava preparado para manifestações inusitadas do Espírito, mas estava ainda
menos preparado para as pessoas incomuns que Deus iria acrescentar à nossa
equipe.
Quando o poder
do Espírito Santo é derramado, isto se dá, às vezes, de maneiras inesperadas;
conseqüentemente, pode ser ridicularizado e rejeitado. No primeiro Grande
Despertamento da América, como no dia de Pentecostes, várias coisas estranhas
aconteceram.
Em outubro de
1741, o reverendo Samuel Johnson, na época deão substituto da Universidade
Yale, tinha reservas quanto ao avivamento que estava varrendo a Nova
Inglaterra, liderado pelo pregador itinerante, George Whitefield. Ele escreveu
uma carta ansiosa para um amigo na Inglaterra:
Este novo entusiasmo, resultado da pregação de Whitefield
pelo país, está bem disseminado aqui na Universidade (Yale)... Muitos
estudantes foram contaminados por ele, e dois dos candidatos deste ano tiveram
seu diploma negado, por conta de seus esforços desordeiros e incansáveis para
propagá-lo... Temos agora avançando aqui entre nós a mais estranha e
inexplicável onda de entusiasmo, talvez de todas as épocas ou nações. Pois não
apenas a mente de muitas pessoas fica impactada com tremenda angústia, ao
ouvirem os medonhos gritos destes pregadores itinerantes, mas até mesmo seus
corpos são freqüentemente afetados, de uma hora para outra, pelas mais
estranhas convulsões, agitações e contrações involuntárias, que às vezes
atingem até mesmo aqueles que vão como meros espectadores.¹
A esposa de Jonathan Edwards, Sarah, também foi profundamente
afetada pelo poder e pela presença do Espírito Santo. Em suas próprias
palavras, ela descreveu como foi tomada pela presença de Deus, num período de
tempo que durou mais de dezessete dias, de tal forma que perdia todas suas forças
e ficava prostrada. Em outras ocasiões, não conseguia se conter e pulava e
gritava de alegria.²
Jonathan Edwards era um defensor do mover do Espírito, mas
esta maneira extrema em que as pessoas eram afetadas foi demais para os
conservadores líderes da Nova Inglaterra. Sua respeitabilidade foi ofendida, e
passaram a condenar completamente o movimento, principalmente por causa do
excessivo entusiasmo e das manifestações nada convencionais do poder do
Espírito.
O doutor Sam Storms ingressou na nossa equipe em agosto de
1993, como Presidente de Grace Training Center (Centro de Treinamento
Graça), nosso instituto bíblico de período integral em Kansas City. O Dr.
Storms formou-se no Seminário Teológico de Dallas (no Texas) e obteve um Ph.D.
em história intelectual, na Universidade do Texas em Dallas. Sam era um pouco
cético acerca destes manifestações espontâneas e explosivas das pessoas,
supostamente causadas pelo Espírito Santo.
Na Conferência das Igrejas Vineyard, em abril
de 1994 em Dallas, seu ceticismo acabou. Sam estava no fundo do auditório
quando o poder do Espírito Santo caiu sobre ele. Primeiro, começou a orar e a
chorar, enquanto o Senhor ministrava às necessidades mais profundas de seu
coração. Pouco depois disto, ele abruptamente pulou de sua cadeira e começou a
rir histericamente, apesar de todos seus esforços desesperados para se
controlar.
No final da conferência, ele ainda estava enfraquecido pela
presença de Deus. Finalmente, suas forças retornaram e alguns de nós ajudaram
Sam a se levantar para ir ao carro. Mas no estacionamento aconteceu novamente.
Sam caiu repetidamente, correndo o risco de estragar suas roupas requintadas.
Vinte minutos depois, conseguimos levá-lo ao refeitório, onde
o poder de Deus o atingiu novamente. Quando pensamos que já havia passado tudo,
chegamos ao quarto do hotel e percebemos que Sam não estava entre nós. Ele
ainda estava nas escadas, incapacitado pelo poder de Deus.
O fruto do encontro de Sam com o Espírito Santo foi uma fé
renovada, uma reverência maior pelo poder de Deus e algo que o apóstolo Pedro
descreveu como “alegria indizível e gloriosa” (1 Pe 1.8).
Bem-aventurados São Aqueles Que Não Se Escandalizam
Em diversas ocasiões, tanto
os fariseus quanto os discípulos não conseguiram compreender Jesus e, conseqüentemente,
ambos ficaram ofendidos.
Geralmente,
pensamos nos fariseus como pessoas muito más. Na verdade, eram os conservadores
intelectuais e defensores da fé, que tinham na ortodoxia sua arma contra a
influência corruptora da cultura grega. Sua pedra de tropeço era o orgulho que
tinham na integridade de suas interpretações da lei (tradição dos anciãos).
Estavam contentes com sua ortodoxia, mas não tinham fome do próprio Deus.
Os discípulos
ficaram ofendidos também. Nos Evangelhos Sinópticos (Mateus, Marcos e Lucas),
podemos ver uma linha contínua de profunda incapacidade, por parte dos
discípulos, de entender o que estava acontecendo.
Aqueles que se
escandalizaram e que se afastaram de Jesus, quando Ele disse “Eu sou o pão
vivo que desceu do céu” (Jo 6.51a), não eram fariseus, mas seus discípulos
(seguidores que não faziam parte do grupo dos doze). Apesar de ter ensinado com
grande sabedoria e operado alguns milagres em sua própria cidade, seus amigos “ficavam
escandalizados por causa dele” (Mt 13.57).
A palavra
grega mais usada no Novo Testamento para “escandalizar” é também traduzida como
“tropeçar”. É a palavra skandalizo, de onde se deriva a palavra escândalo,
em português. Deus até escandaliza ou ofende a mente de seu próprio povo.
Ao ofender a mente das pessoas, Ele revela aquelas coisas no seu coração que os
faz tropeçar. Jesus é revelado na Bíblia como o Caminho, a Verdade, o Pão da
Vida e a Porta. Ele também é “uma pedra de tropeço, uma rocha que faz cair” (Is
8.14).
O que mais vem
à luz num coração escandalizado é a falta de fome por Deus e a falta de
humildade. Ao olhos de Deus, estas são duas características muito importantes
do coração.
Nem o
funcionamento do ministério profético neotestamentário, nem o ministério
sobrenatural do Espírito Santo são ciências exatas. São áreas que desafiam
nosso indevido senso de controle e nossos paradigmas religiosos. Foram
designados por Deus exatamente para este propósito!
Verdadeiro
cristianismo é uma relação dinâmica com o Deus vivo e não pode ser reduzido a
fórmulas e ortodoxia estéril. Nosso chamamento é para abraçar o mistério de
Deus e não cobiçar uma conveniente e racional explicação para cada doutrina ou
questionamento que encontramos. Nossa sede por uma relação pessoal com o
próprio Deus deve ser muito mais forte do que este impulso interior de querer
compreender perfeitamente cada fato.
Nossa
humildade diante de Deus deve nos ensinar que nunca teremos todas as respostas,
ao menos não nesta era. Já não é muito fácil conviver conosco do jeito que as coisas
são agora. Enquanto estivermos neste corpo carnal, acredito que possuirmos
onisciência (todas as respostas) não nos tornaria melhores neste sentido.
Orgulho Religioso de Auto-suficiência
Jesus trata
diretamente com a raiz da auto-satisfação e do orgulho religioso:
Vocês estudam cuidadosamente as Escrituras, porque pensam que
nelas vocês têm a vida eterna. E são as Escrituras que testemunham a meu
respeito; contudo, vocês não querem vir a mim para terem vida. Eu não aceito
glória dos homens, mas conheço vocês. Sei que vocês não têm o amor de Deus (Jo 5.39-42).
Como vocês podem crer, se aceitam glória uns dos outros, mas
não procuram a glória que vem do Deus único? (v.
44).
Estes judeus religiosos foram enganados ao achar que seu
conhecimento das Escrituras e sua associação com a comunidade religiosa eram
equivalentes ao conhecimento de Deus. Entretanto, na verdade, recusavam-se
teimosamente a ter um relacionamento pessoal com Deus através de seu
representante pessoal, Jesus. Orgulhavam-se de seu conhecimento das Escrituras,
enquanto rejeitavam o autor das Escrituras.
Quando o Senhor estava começando a desafiar Michael Sullivant
a caminhar dentro do seu chamado profético, ele teve um dramático sonho
espiritual que tocou nestas áreas do seu coração. O Senhor lhe apareceu,
olhou-o nos olhos e disse: “Você está esperando para me obedecer, até que tenha
planos compreensíveis. Quero que me obedeça sem ter planos compreensíveis.”
Enquanto Michael estava ajoelhado diante de Jesus, um pilha
de transparências saiu de sua barriga e foi parar em suas mãos. Ele entendeu
que estas transparências representavam seus próprios planos, que o Senhor via
claramente. Michael se sentiu envergonhado e profundamente triste; inclinou sua
cabeça e começou a chorar e a se arrepender. Dizia: “Senhor, não quero
desobedecer-lhe.”
Depois disso, ele olhou para o Senhor em meio às suas
lágrimas, e Jesus estava sorrindo para ele.
Para entregar sua vida a este chamado, Michael teve que
passar por alguns tratamentos de Deus bem severos, em relação ao seu
intelectualismo e auto-confiança em seu ministério e estilo de relacionar-se
com pessoas. Estes tratamentos incluíram repreensões em particular e até mesmo
um grau de humilhação pública para ajudá-lo a humilhar-se perante o Senhor.
Há alguns anos, quando Michael era o pastor líder na Metro
Vineyard Fellowship, o Senhor retirou sua unção de pregação pastoral e
ensino por um tempo. Esta mudança ficou óbvia para quase todos na igreja e
levou-o a uma mudança de função, em que não precisava pregar tão
freqüentemente.
Poucos dias depois disso, Paul Cain, que não sabia nada do
que estava acontecendo, profetizou publicamente a Michael e sua esposa, Terri,
que a intenção de Deus era “mudar sua vocação” e guiá-lo por um caminho
profético. Ele os assegurou que as mudanças que haviam ocorrido não eram um
rebaixamento, mas um plano designado para trazer maior glória a Deus através de
suas vidas.
Todos nós devemos aceitar de bom grado qualquer coisa que for
necessária para estabelecer e experimentar uma relação mais íntima com o Pai, o
Filho e o Espírito Santo. Deus coloca diante de nós algumas pedras de tropeço
estratégicas, no evangelho e no nosso caminhar com o Espírito, a fim de testar
nosso coração. Se estivermos sedentos por Deus e humildes de coração, estas
pedras de tropeço, na verdade, se tornam pedras de apoio que nos ajudam a
caminhar em direção aos seus propósitos para as nossas vidas.